PUB

Fact-Checks

Chá de hibisco elimina gordura abdominal?

20 Jun 2023 - 11:00
falso

Chá de hibisco elimina gordura abdominal?

Alega-se nas redes sociais que o chá de hibisco é capaz de eliminar a gordura abdominal. Numa publicação do Facebook defende-se que esta infusão feita a partir da planta hibiscus sabdariffa é diurética, elimina a gordura de “certas regiões do corpo”, sobretudo da “área abdominal”. Além disso, diz-se também que o chá de hibisco “combate a celulite”.

O autor do post argumenta ainda que o hibisco é “bastante usado nas dietas de emagrecimento” e que, além de regular a pressão arterial, “evita o acúmulo de gordura”. Mas confirma-se que o chá de hibisco elimina mesmo a gordura na zona abdominal como se alega na publicação?

É verdade que o chá de hibisco elimina gordura abdominal?

chá de hibisco gordura abdominal

Em declarações ao Viral, o nutricionista clínico, infantil e desportivo Ricardo de Castro é claro: o chá de hibisco (assim como outros chás) não elimina a gordura abdominal, embora possa “ajudar com a retenção de líquidos” devido às suas propriedades drenantes que “aumentam a produção de urina”.

Na mesma linha, Marta Azevedo Pinto, nutricionista do Start up – Health & Fitness, reforça que “não existem estudos” que permitam concluir que o chá de hibisco possa “conduzir à perda de gordura”.

“A planta poderá conter algum teor de antocianinas (o composto que dá a cor à flor de hibisco) e de vitamina C. Estes antioxidantes podem trazer benefícios à saúde na prevenção de doenças crónicas e proteção contra danos nas células. No entanto, os antioxidantes não terão o papel de conduzir à perda de gordura”, explica a nutricionista.

Ricardo de Castro esclarece que, na prática, a perda de gordura implica um “saldo energético negativo”, isto é, que o “resultado entre o consumo de calorias e o gasto diário seja abaixo de zero”. Como consequência, o corpo vai buscar a “energia em falta” a tecidos de gordura.

PUB

Ou seja, substâncias presentes em alimentos ou chás “serão muito pouco eficientes na queima de gordura”, aponta o nutricionista.

Esta ideia é também referida por Marta Azevedo Pinto, que diz que a perda de gordura está dependente de um “défice calórico”, ou seja, quando “consumimos menos calorias do que aquelas que o corpo gasta”.

Neste sentido, o chá de hibisco “poderá apenas auxiliar” no processo de perda de peso e de gordura abdominal se estiver inserido num “estilo de vida saudável e ativo, com uma alimentação completa e equilibrada”, reforça a nutricionista.

Para Marta Azevedo Pinto, as pessoas que desejem perder gordura abdominal devem adquirir hábitos saudáveis, em vez de “procurarem chás ou alimentos com potencial milagroso”.

Em primeiro lugar, é preciso “quebrar mitos quanto à alimentação” e evitar “mudanças apenas temporárias”.

“É preciso construir aos poucos a alimentação para continuar com prazer e felicidade a longo prazo. Não é uma alimentação de constante sacrifício. As pessoas não devem proibir alimentos nem fazer restrições exageradas. A alimentação deve ser simples, acessível, prática e ajustada aos gostos e rotinas”, apela.

Quanto ao exercício físico, “devem começar com pequenas metas” que sejam possíveis de manter a longo prazo”, como “pequenas caminhadas ou treinos de 10 ou 15 minutos”.

Na mesma linha, o nutricionista clínico, infantil e desportivo Ricardo de Castro defende uma “boa conjugação entre nutrição e exercício” para queimar gordura abdominal. Para isso, é preciso moderar o consumo de calorias e “aumentar o gasto das mesmas” com atividade física.

“A gordura abdominal está associada ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes e alterações a nível de colesterol”, alerta Marta Azevedo Pinto.

Beber chá de hibisco tem vantagens? E há riscos?

chá de hibisco gordura abdominal

A nutricionista do Start up – Health & Fitness reconhece que “a pesquisa atual sobre o hibisco é limitada” e, por isso, são necessários mais estudos para “entender completamente” os benefícios e riscos da flor de hibisco.

PUB

No entanto, destaca que pode ser uma “escolha interessante a nível nutricional” substituir o consumo de “sumos e refrigerantes com maior adição de açúcar” pela ingestão de “chá de hibisco não açucarado”. Esta escolha contribui para uma “redução de calorias ingeridas”.

Além disso, com a ingestão de chá, “aumentamos o consumo de água”, o que ajuda a fazer “refeições equilibradas, em porções adequadas e a manter-nos saciados”. 

Consequentemente, a água “auxilia o normal funcionamento do trânsito intestinal”, levando a uma redução do inchaço abdominal e a uma “sensação de maior conforto e leveza abdominal”.

Uma revisão sistemática a 17 estudos, publicada na Nutrition Reviews em 2022, aponta para uma relação entre o consumo regular de hibisco e uma redução do risco de doenças cardiovasculares. No entanto, os investigadores consideram que “são necessários mais estudos” para estabelecer uma “associação efetiva”.

Outra revisão sistemática do “Journal of Hypertension”, de 2015, revela potenciais benefícios da planta hibiscus sabdariffa na hipertensão arterial. Mas os autores admitem também que são precisas mais investigações para validar os resultados.

Por outro lado, uma publicação da revista científica “Journal of Food Biochemistry”, de 2022, sugere que a ingestão de chá de hibisco poderá diminuir complicações associadas à diabetes.

Mas a ingestão do chá pode “não ser vantajosa” ou até “desaconselhada” em algumas situações, aponta Marta Azevedo Pinto. Por exemplo, “deixa de ser pertinente”  para a saúde, se só conseguir beber esta infusão com açúcar.

Noutro plano, o chá de hibisco deverá ser evitado na gravidez e em caso de alergia ou sensibilidade a flores de hibisco “ou outras plantas da família malva”.

Poderá também “interferir com alguns medicamentos”, como o cloroquina, utilizado no tratamento da malária, sublinha a nutricionista Marta Azevedo Pinto.

PUB

Ricardo de Castro defende que, “como em tudo, o equilíbrio é chave”. Nesse sentido, a ingestão de chá de hibisco deve ser feita com “parcimónia”, dado que “tudo o que é demais traz consequências”.

————————————————

PUB

Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

falso

Categorias:

Alimentação

20 Jun 2023 - 11:00

Partilhar:

PUB